domingo, 24 de julho de 2011

Asma





Tem algo preso dentro de mim. Memórias, lembranças, resquícios de um alguém que perdeu significados. 
O ar não entra, a raiva não sai. O ciclo está quebrado. Como posso respirar?
Parece que o oxigênio brigou com meu estado de espírito. Parece que estou sendo esmagada por dentro, pelo próprio peso da mente. Devastadora, espreme órgãos, quer matar o coração.
E o ciclo quebra. Um corpo que de tantos ares passados não permite o puro entrar. 
E o que faz de mim doente, é exatamente a falta dele. Ar Puro. Ar que só sinto na brisa dos meus cabelos, 
ar puro que só sinto quando toca rostos alheios. Ar que renuncia entrar nos meus pulmões. 
Mas o elemento não é a culpa da minha doença, eu mal sabia que podia controlá-lo. 
Como ele pode entrar se nada pode sair? Como posso mudar se as raízes ainda estão ali. 
3,4,5,7 anos eu cresço, nada se transforma. O tempo não existe para meus fantasmas, eles estão exatamente ali, onde deixei há tantos anos. Afinal, ninguém inconveniente muda por vontade própria. 
As vezes, é preciso exigir que nos deixem. Já que não agüento mais lembranças sendo assobiadas nos meus ouvidos. Chega. Quero a liberdade da minha própria vida. 
Quero deixar sair o mesmo ar que entra no meu corpo. E que seja instantâneo, que seja limpo, sem obstáculos, sem barreiras. E assim eu saberei, estarei livre. Estarei saudável. 

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Dia de cão




 Nesse exato momento, me encontro deitado na cama. A escuridão do quarto dá boas vindas a luz prateada da lua pela janela escancarada. Não deito como um homem são que tranqüilo adormece. Pelo contrário, minha situação é de plena desgraça. O mundo cai aos meus olhos toda vez que ouso abrir minhas pálpebras. 
O peso da alma é indescritível. A dor no peito, habitual. Porém, ainda assim dolorosa. 
Seguro como garras o lençol branco em agonia, minha posição é fetal. Meus gritos são abafados pela minha estúpida consciência. A vergonha do grito aos poucos se habitua à existência. O choro, tento evitar ao máximo. Enquanto mais tempo resisto, parece que agulhas querem descer a garganta em desespero. 
Os minutos passam lentos demais enquanto enfraqueço, o corpo ainda pesa mas parece anestesiado. 
Meu Deus! É tudo tão triste... Tão trágico. Queria acordar, queria não acreditar. Já está feito. 
Tragédia irreversível. Respire, é só mais um dia de cão.